A Baixada Fluminense foi
reconhecida durante muitos anos como a região mais violenta do estado do Rio,
com altos índices de homicídios por cem mil habitantes, a Baixada – sempre
estigmatizada pelo olhar da mídia tradicional – compreende vulnerabilidades econômicas,
sociais, políticas, grande parte das mesmas devido ao enorme descaso do poder
público perante a região, porém, em sua essência, é notório observar sua enorme
potência cultural, e o mais importante, a vontade da população de transformar seu
território local.
Falar da importância de ver o “Jovem Negro Vivo” é
falar da Baixada! Podemos observar que, segundo os dados divulgados pelo ISP,
no de 2014 a taxa de homicídio referente a Baixada Fluminense era de 58,7 por
cem mil habitantes, já no mesmo ano a capital fluminense registrava a taxa de
19,7 por cem mil habitantes, com estes dados analisamos que apesar da população
carioca residente na capital ser, literalmente, o dobro da que reside na
baixada, no que se refere a taxa de homicídio a diferença se inverte e é onde
vemos o tamanho do desafio que enfrentamos diariamente. É na baixada, também, o
local onde mais se pratica homicídios decorrentes de intervenção policial no
estado do Rio. Segundo recente pesquisa realizada pela ONG Justiça Global, só o
15° BPM, localizado no município de Duque de Caxias, registrou 318 casos de
homicídios decorrentes de intervenção policial no período de 2010 a 2015.
Diante dessa realidade posta tão cruelmente a nossa
frente, qual é o nosso papel na mudança desse cenário?
Na Baixada, sempre me perguntam para que serve o
ativismo em Direitos Humanos, e mais do que isso, pra que servem esses direitos
que pro morador da região passa tão longe a plena compreensão. A primeira
grande barreira que enfrentamos é desmitificar a ideia que Direitos Humanos são
pra apenas uma parcela da população, apresentando a luta como um dever de todos
e a garantia de direitos básicos nossa principal demanda. Direito à VIDA,
educação, saúde, moradia, direito a ter direitos é a base da minha fala, é a
base da construção de uma agenda positiva que tenha a nossa narrativa,
construída por nós para nós.
Falar da nossa responsabilidade na transformação de
uma realidade tão cruel como a da Baixada pode parecer egoísta para alguns, mas
não podemos deixar de assumir nosso papel como possíveis agentes
transformadores no local em que vivemos. Deixar de apenas “ser” e passar cada
vez mais a “agir”! O trabalho por uma mudança verdadeiramente efetiva na
Baixada Fluminense acontece no nosso ativismo do dia a dia, o resultado talvez
apareça a longo prazo, mas como toda luta ele deve ser feito coletivamente, de
passo em passo, atingindo a cada pessoa, a cada espaço, a cada região.
E por falar em mudança, não posso esquecer que cada
vez mais vejo a mudança sendo pautada por uma juventude combativa, cada vez
mais os espaços de diálogo aberto, destinados a juventude vem servindo para que
os jovens possam pensar coletivamente em garantia de direitos, acesso à cidade
e políticas públicas verdadeiramente representativas.
Gosto de pensar que o meu ativismo por direitos na
Baixada é na intenção de se construir uma agenda positiva de direitos que
contenha a narrativa de uma geração que ainda pode atuar efetivamente na
mudança dos quadros de violações cotidianos. A mensagem que pode reproduzir por
aqui é a certeza que o protagonismo da juventude da Baixada na construção de
uma nova agenda de direitos, assim como o fortalecimento das redes compostas
por indivíduos e organizações que buscam nos apoiar nesse caminho é o primeiro
passo para um efetivo percurso de luta por direitos, visibilidade e reais
mudanças para a Baixada Fluminense.